🤘Edição #21: muitos motivos para sentir raiva.
entre traições, denúncias e pesadelos coletivos.
Tempo de leitura: 5 minutos
Em julho completei mais um ano de vida. Para celebrar, fiz uma tatuagem com a desculpa de carregar na pele um dos grandes aprendizados do último ano: reconhecer e abraçar a minha ferocidade.
Ferocidade não no sentido violento da coisa, mas no de me preservar.
A reflexão ganhou mais corpo quando a
, responsável pela arte e pelas agulhadas, questionou minha escolha.Por que essa tatuagem?
A resposta vem de um longo devaneio com o meu corpo e as narrativas que o cercam. Por um lado, abraçar quem sou. Por outro, abraçar o que não querem que eu saiba que também sou. Delicadeza e força se complementam e para manifestar ambos, é preciso coragem.
Para começar, a delicadeza nunca é vista como um elemento de força. A feminilidade muitas vezes é subestimada. Em contrapartida, mulheres, em sua grande parte, são ensinadas a cruzarem as pernas, sentarem igual mocinha e castrarem seus instintos. Há, de forma bastante consciente na sociedade, uma responsabilização da mulher sobre como ela será tratada perante os outros. Neste contexto, quanto mais se tenta romper as regras, mais monstruosa e ameaçadora você se torna.
Inclusive, falei um pouco sobre isso na edição sobre o filme Podres Criaturas.
A ferocidade podada cria uma mulher indefesa.
É ir para a batalha vestindo um biquíni e não uma armadura.
Certa vez, uma amiga me contou que fez um exercício: o de não sorrir por uma semana. O desafio era manter-se séria nas interações do dia a dia, apenas para criar a consciência da sua necessidade de parecer solicita e simpática o tempo todo.
O resultado?
Ela se sentiu bastante desconfortável e, claro, muita gente estranhou e olhou torto. Achei curioso, pois não me recordo de estranhar a seriedade de um homem. Não me recordo de julgar como arrogante ou antipático um homem de comunicação assertiva, sem floreios. Geralmente, encaram isso como liderança e objetividade, não? Então qual é a diferença?
“A obediência provoca uma descoberta chocante que deve ser registrada por todas as mulheres. Ou seja, a de que ser nós mesmas faz com que nos isolemos de muitos outros e, entretanto, ceder aos desejos dos outros faz com que nos isolemos de nós mesmas. É uma tensão angustiante e que precisa ser suportada…” — Clarissa Pinkola Estés
Suportar o desconforto, eis um caminho.
É uma frase que tenho repetido entre meus processos e descobertas. Aprender a ser iniciante, errática e me expor por conta própria é desconfortável para um caramba. Quase insuportável, eu diria.
Me sinto cerrando os dentes, afiando as unhas em pedras e rasgando, aos berros, a mortalha das expectativas.
Penso que, para grande parte das mulheres, seguir seus sonhos, propósitos e ambições é, sim, um ato de rebeldia. Engolir os rótulos, os desalinhos nas relações, as explicações e opiniões não solicitadas, além da intrínseca culpa por, constantemente, desagradar.
Ferocidade é ter estômago para não tolerar o desrespeito e se posicionar, permitindo que as situações se tornem intragáveis. Não ceder ao sussurro conciliador das circunstâncias. Tem horas que não dá para colocar panos quentes, é preciso atear fogo.
Afinal, em um curto intervalo, vimos o relato de uma participante do reality Casamento às Cegas denunciando o abuso sofrido pelas mãos do seu então marido e com o posicionamento da cantora Iza que, grávida, descobriu uma traição. Como se não bastasse, também me deparei com esse conteúdo da escritora
, ouvi histórias de colegas e amigas sendo diminuídas em suas profissões, compartilhei os meus momentos de angústia. Vi denúncias e gatilhos acionados. São histórias muito comuns entre ouvidos e bocas de mulheres.No fim, será que a ferocidade e raiva não deveriam ser, para nós, um direito?
“Horror [é] a expressão de violência que você sente dentro de você - e é importante reconhecer que as mulheres sentem violência e raiva também.” — Julia Ducournau.
E o livro?
Trago notícias!
As Mariposas da Morte segue em seu casulo, se preparando para ganhar asas.
👉 Estou aproveitando o momento para lapidar o texto antes da edição e considerei importante fazer uma leitura sensível.
Leitura sensível é quando submetemos o original para uma pessoa profissional avaliar aspectos do texto que podem ser relacionados a algum personagem ou cultura que o autor ou autora não dominam.
Tenho alguns assuntos específicos no livro que quis dar mais atenção. Por mais que eu pesquise e tome bastante cuidado, nada melhor do que um olhar profissional para garantir que tudo está de acordo, afinal, detalhes podem escapar dos meus olhos.
Apesar do desconforto (olha eu lidando com ele de novo) e, porque a gente sempre quer tirar dez em tudo, foi uma experiência muito enriquecedora. Uma das coisas que mais me instigam na literatura é esse constante exercício de empatia, de pensar e viver para além da nossa bolha.
👉 A sinopse do livro foi revelada PELA PRIMEIRA VEZ! (e de um jeito muito especial)
Este mês o Portal Cataprisma iniciou um projeto para autores e autoras reagirem às sinopses de livros nacionais.
Mia Sardini, autora de horror e literatura transgressiva, além de ser minha amiga, foi convidada para o projeto e me pediu para reagir à sinopse de As Mariposas da Morte.
Quer conhecer a sinopse e ver as reações da Mia? 👀
Tomatinhos
Aleatoriedades que decidi compartilhar com você!
🤘Esse post sobre a história da branquitude me trouxe profundos devaneios e informações que eu desconhecia.
🤘Profissionais diamante: essa é para pessoas que, assim como eu, gostam de aprender de tudo um pouco. Não somos um pato!
🤘Todo mundo quer fazer um livro importante! Amei a provocação da
em relação aos livros escritos com o intuito de agradar.
🤘 Na edição passada… falei sobre criatividade e rede de apoio. Já leu?!
Obrigada por ler mais uma edição do “bruna está digitando…” até o final :)
Fique à vontade para comentar ou responder esse e-mail, me contando o que achou.
Até agosto! 🤘
Bruna Corrêa — publicitária, redatora, escritora de ficção, e-mails e devaneios.
👉 Me encontre também no:
Um texto que pulsa forte e necessário. Que mais mulheres descubram que podem ser ferozes, e vistam esse manto de ser quem se é! Você é incrível!
Seus textos são sempre um abraço de sororidade e um soco no estômago. Você é necessária, Bru.