🤘Edição #18: uma mulher, dona de sua sexualidade, incomoda muita gente.
escrever e fazer filmes sobre, incomoda muito mais!🎵
não teve edição no mês passado, mas não pense que abandonei você. sou apenas uma mulher tentando lidar com os altos e baixos da rotina e, às vezes, não dando conta de equilibrar todos os pratinhos da vida. faz parte!
mas sem tragédias, cá estamos! e faz tempo que tô para falar desse assunto por aqui e bem curiosa para saber sua opinião. 👀
um beijo
- bru.
tempo de leitura: 6 minutos
Atrasada no hype, assisti Pobres Criaturas nos 45 do segundo tempo, antes do filme sair de cartaz.
Com 11 indicações ao Oscar, a história nos conecta à Bella Bexter, uma criatura que, literalmente, teve o cérebro de um bebê implantado no corpo de uma mulher.
Criada em uma casa-laboratório, Bella se desenvolveu rápido e não teve contato com os conceitos “polidos” da sociedade patriarcal. Ao alcançar a pré-adolescência, descobre os prazeres que seu corpo pode proporcionar e parte para uma aventura de autodescoberta.
Diante de tantas opiniões sobre a obra, me deparei com pessoas questionando as cenas de sexo, a necessidade da nudez, e me perguntei: por que incomoda tanto mulheres protagonizarem sua sexualidade?
Obcecada por estudar e entender o desenvolvimento de personagens femininos, sou a “chata” que analisa se as histórias construíram bem suas mulheres e meninas e como o fizeram. Sendo assim, com Pobres Criaturas não foi diferente e me vi refletindo a respeito do incômodo alheio e o porquê da trama ter me encantado tanto.
Por muito tempo, as narrativas criaram um imaginário de que, por exemplo, mulheres sexualmente ativas morrem primeiro nos filmes de terror. A virgindade é um aspecto muito presente no tropo da Final Girl — as mulheres que sobrevivem.
“A simbologia na ideia de Final Girl dá margem para algumas interpretações, em alguns casos, paradoxais. A explicação mais simples é a celebração ao puritanismo, às personagens imaculadas, mesmo diante do mal. Pode ver, há sempre algum tipo de moralismo na escolha dos personagens que irão morrer ao longo do filme: eles são promíscuos, bebem, usam drogas ou fazem qualquer coisa que os pais não gostariam que seus filhos fizessem. Mas a Final Girl está acima disso e é isso o que a torna uma sobrevivente.” — Macabra.TV
Inclusive, Alien é um ótimo exemplo de subversão do tropo.
Sexo sempre foi um grande tabu para nós mulheres: não faça, tome cuidado, se dê ao valor, não fique com qualquer um, não fique com vários, só depois de casar, hein?… e assim vai a lista de advertências não solicitadas e infinitas.
Em minhas constantes trocas com colegas escritoras, que abordam tais temas e cenas em suas obras, é unânime: questionam as cenas de sexo, a existência de um relacionamento ou um affair para suas protagonistas e até criam regras de que “não pode ter cena de sexo em tal gênero literário”.
Assim como em Pobres Criaturas, a sociedade ainda tenta, a todo custo, castrar nossos impulsos e ditar o que podemos ou não podemos. Neste contexto, Bella representa a desobediência de uma mulher que explora o mundo e a si mesma, e vê no sexo um ato prazeroso, divertido, sem se preocupar com as manobras sociais. Ela reforça que mulheres são, sim, seres sexuais e não há nada de errado nisso.
Os comentários, críticas e questionamentos em torno do filme mostram a importância e necessidade de representar mulheres como os seres complexos que são. Nos apropriar de nossas narrativas abre espaço para discussões mais profundas sobre quem somos em nossa forma mais visceral, independente do que a sociedade ou “tal gênero literário” espera de nós.
E por fim, às leitoras desta newsletter, tudo o que posso lhes desejar é desobediência. 🥂
E o livro, hein?
Se você perdeu a edição anterior, estou aqui para avisar que meu primeiro livro, As Mariposas da Morte, será publicado pela editora O Grifo. 🍾
👉 Enquanto isso, o que estou digitando por aí?
Após a assinatura do contrato com a editora, tirei algumas semanas descansar, não escrever nada meu e só vegetar mesmo.
Agora, em abril e inspirada no outono, retomei a escrita com um conto de terror com uma pegada weird que fez meu marido questionar minha sanidade.
O próximo passo é decidir o que vai ser do conto e revisar As Mariposas da Morte, aproveitando os meses longe da história.
Últimas leituras
Apenas apaixonada por tudo que li nas últimas semanas.
✨ Inventário de Predadores Domésticos, de Verena Cavalcante: uma coletânea de contos de terror que arrisco dizer ter sido, até agora, minha melhor leitura. Verena tem a escrita habilidosa, bela e aterrorizante ao mesmo tempo. Sua obra me deixou com um misto de vulnerabilidade, horror e encantamento.
✨ Ninguém Nasce Herói, de Eric Novello: um romance que nos convida a viver um Brasil imerso em uma ditadura fundamentalista e com personagens que eu gostaria de sentar junto em um bar e tomar uma cerveja.
✨ O Toque da Pele Morta, de Andre L. Braga: um romance que explora o lado mais podre e ambicioso do ser humano. A triste realidade da cracolândia, os crimes de uma indústria farmacêutica, religiosidade e drama familiar são alguns dos temas.
✨ O Alienista, de Machado de Assis: uma novela irônica e divertida, que me presenteou com uma passagem que faz muito sentido com o tema desta edição.
[…] “ao contrário do que se possa parecer, a loucura não é constituída em um lugar fora da sociedade, ou mesmo a sua margem, mas em seu interior mais profundo. São os discursos morais, os discursos científicos, os discursos religiosos, os discursos judiciais, os discursos governamentais interiores a uma sociedade que determinam o nascimento do louco.”
E com essa, Machadão me fez encarar o teto por alguns minutos. 🫠
Tomatinhos
Conteúdos e aleatoriedades que fiquei a fim de te mostrar. :)
🤘Um podcast sobre Romances eróticos, empoderamento feminino e tabus.
🤘Este texto do
sobre Pobres Criaturas se você quer mais opiniões e dados entorno do filme.
🤘Qual é a classe que produz a arte? Vou deixar essa pedrada do Tempero Drag aqui para você.
🤘Leitura obrigatória! Este texto da autora Monique Malcher, sobre a beleza da repetição, foi meu chá de camomila da noite.
🤘Um vídeo bem interessante sobre a arte de Yves Klein. A ideia do conteúdo é falar sobre a exposição de artes invisíveis que ele criou, mas confesso que o fato de Yves também ter sido alquimista e juntar todas as suas competências em seu trabalho artístico, me chamou ainda mais atenção.
Obrigada por ler mais uma edição do “bruna está digitando…” até o final :)
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Até maio! 🤘
Bruna Corrêa — publicitária, redatora, escritora de ficção, e-mails e devaneios.
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Pena que te li só agora. Publiquei, também no atraso, sobre Bella Baxter. Mas ela merece um ano de textos.
Obrigada pela citação, e gostei muito do texto <3