A edição de hoje está mais para um desabafo. Pensei muito se devia mesmo deixá-la assim, mas não seria honesto da minha parte não deixar. A realidade do mês de março foi complicada em muitos aspectos, principalmente envolvendo ansiedade.
Então decidi me abrir sobre o assunto e contar um pouco da minha experiência.
Se você também convive com ansiedade, procure pessoas com quem possa conversar. E se você percebe que alguém perto de você não está muito bem, ofereça a ajuda que puder.
Um beijo!
- bru.
Tempo estimado de leitura: 4min
É como acordar com uma bomba relógio armada no peito.
Embrenhada nos sentimentos caóticos, ela pode explodir a qualquer momento, escapando pelas entranhas de uma mente revirada.
O estômago fica repleto de pontas ficando a barriga e eu posso sentir seu remexer inquieto dentro de mim.
Já explodi, mas a bomba continua aqui, ameaçando quebrar meu juízo mais uma vez. Depende de mim dar cabo desse trambolho pesado demais para carregar, mas não tenho onde colocá-lo. Essa bomba é minha.
Dói e é minha.
Ela escancara meus medos, faz sentir e pensar o que não quero. Sou eu em estado de pólvora. Um estalo e tudo vai… pelos ares.
E o mais triste é que só eu saberei.
devaneios de fuligem, Bruna Corrêa.
E o livro, hein?
Fevereiro foi um mês importante para mim e a escrita rendeu. Mas em março foi um pouquinho diferente.
Fiquei doente, surgiram inúmeras obrigações, compromissos e empecilhos, além de tentar equilibrar os pratos da vida cuidando da minha casa, de mim, das minhas relações, projetos e expectativas.
E nessa balança, o livro ocupa um lugar muito importante, mas não consegui me dedicar tanto a ele quanto gostaria, gerando inúmeras autocobranças. Eu quis me recuperar logo de uma gripe que me derrubou, do cansaço, tentando provar para mim mesma que eu era, sim, suficiente para dar conta de tudo.
E como dar conta de tudo?
É simples: a gente não dá.
Após meses em um estado de equilíbrio e me sentindo super bem, tive uma recaída. Uma crise de ansiedade me atropelou com tudo, engatilhada por um pensamento insistente: você não está fazendo o suficiente.
Se você já teve crise de ansiedade, sabe que demora um pouco para se recuperar de uma. Você fica em um estado que particularmente chamo de ressaca, e dependendo da intensidade, pode durar alguns dias.
É um momento para se acolher. Mas se acolher pode ser um grande desafio em um mundo que nunca para. A sensação é de que você está sempre devendo para alguém.
Agora, escrevendo esse texto, percebo o quanto isso é tolice. A ansiedade me atinge justamente nos momentos em que estou devendo para mim mesma. Devendo mais compreensão, descanso e limites.
Por isso, decidi fazer esse desabafo.
O que é progresso, afinal?
O progresso nem sempre é uma constante.
Terminei o mês de fevereiro dando continuidade ao capítulo 9 de A Mariposa da Morte e até a última semana do mês, eu ainda estava no mesmo capítulo.
Com as crises de ansiedade batendo na porta, fui obrigada a pegar mais leve e descansar. E só depois, já me sentindo um pouco melhor, peguei a última semana de março para escrever e nessa brincadeira encerrei o mês na metade do capítulo 12. 🤡
O sentimento de “sofri à toa” foi real.
E sabe de uma coisa? Mesmo que eu ainda estivesse no capítulo 9, não seria motivo para me sentir mal, pois trabalhar em um livro não se resume apenas na escrita, mas também em pensar na história, revisar o que já foi escrito, reler, conversar sobre seus personagens, criá-los… Enfim, tem tanta coisa envolvida!
Afinal de contas, o foco é no progresso e estou de verdade me esforçando muito para sempre me lembrar disso quando desviar do caminho.
Então me desculpe, essa edição vai ser mais enxuta mesmo. Essa newsletter é escrita por uma humana, e como em todo o processo orgânico moldando nossa humanidade, dias bons virão e dias ruins também.
Mas, sabe? Achei importante compartilhar esses sentimentos com você.
Processos são orgânicos. Teremos dias de glória, mas também teremos dias de dar cabeçada. O importante é manter o foco, continuar progredindo (nem que seja um pouco por vez), reconhecer o que foi feito e seguir adiante.
Eu acredito na importância de compartilhar nossas travessias de maneira real. Muitas vezes a gente só vê o processo lapidado e esquece das dificuldades. O excesso de estímulos e recompensas imediatas nos tornaram irresistentes às frustrações. Mas sinto dizer, não estamos imunes a elas.
Por isso que, dessa vez, vou sustentar esse gostinho amargo e até mesmo degustá-lo. Não estar bem não é um problema. Se forçar a estar que é.
E para encerrar, vou deixar esse vídeo do Tira do Papel que caiu como uma luva para esse desabafo:
Tomatinhos
Quero agradecer demais a todas as pessoas que ouviram o Troca de Áudios durante o mês de março. Foi um processo muito prazeroso e de muita realização. É maravilhoso compartilhar experiências com outras autoras, sempre aprendo muito.
Obrigada demais Bel. Quintilio, Fernanda Rodrigues, Dani Costa Russo e Monique Malcher por aceitarem o convite.
Os episódios seguem disponíveis para você ouvir quanto quiser.
Bel. Quintilio. Falamos sobre o gótico feminino e a importância do gênero para a sociedade e principalmente para as mulheres. Uma verdadeira aula!
Fernada Rodrigues. Uma conversa sobre processos de escrita e a relação entre poesia e política, trazendo a importância de colocar nossas visões de mundo em nossos textos. Uma conversa inspiradora!
Dani Costa Russo. Criadora, curadora e editora do Selo Auroras, exclusivo para publicação de mulheres, Dani compartilhou dicas valiosas para escritoras.
Monique Malcher. Vencedora do Prêmio Jabuti 2021 na categoria contos, Monique dividiu com a gente um pouco sobre seu processo criativo e sua história.
Obrigada por ler mais uma edição do “bruna está digitando…” até o final :)
Todo mês, um novo conteúdo sobre processos criativos, escrita e inspirações direto na sua caixa de entrada.
Até maio!
Bruna Corrêa — publicitária, redatora, escritora de ficção, e-mails e devaneios.
👉 Me encontre também no:
Adorei o nome da newsletter! Me inscrevi por aqui, tenho uma newsletter também e te achei lá pelo notes \0/