🤘Edição #24: pane no sistema, alguém me desconfigurou.
a era da exaustão e uma lista de não-resoluções para 2025.
Sabe quando você lê um texto e tem vontade de grifar ele todo?
Foi mais ou menos esse o sentimento quando li uma matéria sobre “A era da exaustão”.
Me identifiquei com o cenário e, talvez, você se identifique também.
É aquela coisa, né? Final de ano chegando e aquele sentimento de “dar o último gás” é legítimo para muita gente. Mas me assusta perceber que, em muitas conversas entre amigos, colegas e pessoas ao meu redor, o cansaço esteve presente o ano todo.
Dizem por aí que esse cansaço é um fenômeno cultural…
Tempo de leitura: 6 minutos
A era da exaustão
Trato da minha ansiedade com psicoterapia há alguns anos. Há meses não tinha uma crise de ansiedade até este ano, voltando das minhas férias em outubro.
Fiquei bastante frustrada, óbvio. Como se tivesse falhado comigo ou sequer tivesse esse direito. Afinal, me pareceu incoerente acabar de voltar de férias e ter uma crise de ansiedade.
Que palhaçada é essa?!
Depois de algumas sessões com a minha terapeuta, entendi o que me levou às palpitações e falta de ar. É bizarro pensar que, inconscientemente, me senti culpada pelos dias de descanso.
Como quem lida com ansiedade há tanto tempo, e vive imersa em processos criativos, sei que o descanso, o silêncio e o ócio são essenciais para manter a sanidade — já até fiz edição sobre isso, ó.
Então o que causou a culpa?
Já parou para pensar como tudo gira em torno da produção?
As dicas de “bem-estar” dizem para você descansar para produzir mais, dormir para produzir mais, estudar para produzir mais, (insira seu exemplo aqui) para produzir mais.
E assim, cometi a falha de querer voltar das férias no mesmo ritmo de antes dela, como se tivesse que recuperar “um tempo perdido”: “Beleza, já descansou, agora bora trabalhar, acabou a mamata.”
Poxa, mas de onde vem esse sentimento de atraso? Estou “competindo” com quem? E… mamata? Que linguajar é esse, minha jovem?
““Certamente parece que a nossa era é a da exaustão, uma era caracterizada acima de tudo pelo cansaço, pela desilusão e pelo burnout”, escreve a historiadora cultural e especialista em burnout Anna Katharina Schaffner no livro Exhaustion: A History. Segundo a autora, a exaustão pode ser entendida não só como um estado físico, mental ou espiritual individual, mas como um fenômeno cultural mais amplo.” — A era dos exaustos: por que estamos cada vez mais cansados?, revista Galileu.
Anota aí: fenômeno cultural.
Outra palavra que me chamou bastante atenção foi desilusão.
Pois é. Com tanto curso por aí prometendo muitos ganhos em troca de pouco tempo e de toda a sua força de vontade, fica fácil entender porque tanta gente está desiludida —olha eu reclamando dos coaches de novo, meu jeitinho.
Você é responsável pelo seu sucesso e se algo der errado, a culpa também é sua.
“"É um discurso baseado no hiperindividualismo", afirma Pinheiro-Machado, que cita também a presença de uma "meritocracia distorcida" — se algo não deu certo, é porque a técnica não foi bem aplicada. Um "caldo de cultura" que carrega junto milhões de seguidores.” — Quero ser Pablo Marçal: por dentro da arriscada indústria que promete fabricar milionários, BBC Brasil
Todo mundo é produtivo, menos eu —
disse seu cérebro depois de duas horas rolando as redes sociais.
A extrema exposição às informações, a cultura da escassez e o medo de “ficar para trás”, é o que nos faz cair nessas armadilhas. A vida digital não tem o mesmo ritmo da vida orgânica.
Somos o tempo todo absorvidos pela demanda e pelo tempo do outro.
E quando menos percebemos, questionamos o cochilo da tarde, os momentos de lazer com a família, amigos e até as férias.
““Passamos de uma sociedade disciplinar, que tinha o paradigma da obediência, para um modelo empresarial, que tem o paradigma da ação”, avalia o sociólogo Elton Corbanezi, professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e autor do livro Saúde mental, depressão e capitalismo (Editora Unesp, 2021). […] Ele passa a ser o responsável por sua própria condição social, econômica e de saúde mental, em um excesso de positividade que faz tudo parecer possível. É a onda do “sim, nós podemos”: bastaria ter motivação, iniciativa e flexibilidade para realizar o que se deseja.” — A era dos exaustos: por que estamos cada vez mais cansados?, revista Galileu.
E já que o excesso de produtividade está nos exaurindo…
que tal uma lista de não-resoluções para 2025?
Isso mesmo, coisas que você não quer fazer.
Vou compartilhar a minha:
❌ Não pegar o celular depois das 22h;
❌ Adeus notificações de redes sociais e WhatsApp;
❌ Não deixar minha escrita em segundo plano;
❌ Não passar mais de uma hora por dia no Instagram;
❌ Não seguir perfis que não me inspiram só pela boa convivência;
❌ Quando der vontade, não deixar de tirar meus cochilos da tarde depois do almoço.
Talvez esse seja só um exercício bobo, mas esse descompromisso me fez, sim, sentir um pouco de liberdade.
Não sei se vou cumprir tudo, mas também não me sinto obrigada. É uma lista de não-resoluções, lembra?
Bora se descompromissar!
Vou adorar ler as suas não-resoluções também. Que tal me enviar respondendo a este e-mail? Quem sabe não começamos 2025 com menos cobranças… 🤘
*A imagem de capa desta edição é uma obra criada pelos artistas chineses Sun Yuan e Peng Yu, em que um robô é programado para conter um líquido hidráulico, que está sempre vazando, fazendo com que esteja preso a um trabalho sem fim — confira aqui!
Tem um minutinho pra ouvir a palavra do horror cósmico?
Representado pelo autor Lovecraft, o horror cósmico é o medo do incompreensível, do que está além da nossa capacidade de entender.
Não são monstros comuns ou vilões com motivações claras, mas forças insondáveis que nos lembram o quão insignificantes somos diante do universo.
Foi mergulhando nesse abismo de insignificância que escrevi meu primeiro conto de horror cósmico, selecionado pela editora Mão Esquerda, para compor uma antologia dedicada ao gênero, produzida apenas com autoras mulheres.
Em breve, você conhecerá a história de uma mulher solitária, seduzida por um céu impossível, em busca de respostas que talvez nunca devessem ser encontradas.

O horizonte pode brilhar com cores verdes e azuis, mas cuidado: nem toda luz é um sinal de salvação. 🌌
LANÇAMENTO AINDA EM DEZEMBRO, aguarde!
Tomatinhos
Aleatoriedades levinhas porque é dezembro e ninguém aguenta mais! ✨
🤘A
me apresentou uma banda com vocal feminino maravilhosa, que me lembrou uma mistura de Black Sabbath com Fleetwood Mac, e tem uma vibe de gostosa misteriosa. Vocês precisam ouvir!
🤘Falando em música e exaustão, esta edição me lembrou We Love You, do Avenged Sevenfold.
Além da letra falar sobre a era da exaustão e hiperprodução, amo como o instrumental se complementa à crítica, trazendo ritmos frenéticos e momentos onde o bumbo da bateria entra como uma espécie de arritmia cardíaca, para trazer a sensação de ansiedade. É sensacional, presta atenção!
🤘Para se divertir, que tal dar uma viajada por esses reviews de coisas aleatórias? Tem review de calendário, nuvens, chorar, assoar o nariz, piscar…
Obrigada por ler mais uma edição do “bruna está digitando…” até o final :)
Você também pode apoiar meu trabalho compartilhando ele com mais pessoas, comentando e me convidando para projetos. Bora?! 😎
Até mais! 🤘
Bruna Corrêa — publicitária, redatora, escritora de ficção, e-mails e devaneios.
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Divertido esse Lucifer (e é mais uma prova do que eu sempre falo, quanto mais satânico o nome da banda menos extremo ela é)
Não conhecia Lucifer, adicionei na lista dos metal-rock
feliz demais que vc gostou da banda! até coloquei para ouvir aqui agora!
to ansiosa para ler seu contooo, nos avise quando sair!