🤘Edição #22: Sair da zona de conforto dói, mas viver na inércia é morte certa
meu reencontro com a autora Martha Medeiros
Oi, como você está?
Esta edição é uma breve viagem ao passado. Já te sugiro pegar um café, ou um chá, e se acomodar. ☕
Em agosto finalizei a leitura do livro“Feliz por Nada”, da autora Martha Medeiros, e me reconectei com as crônicas.
Gosto muito dessa história de tecer devaneios entre as nuances da rotina. Romantizar o banal, problematizar os acasos e dissertar a vida. Só prova que a arte está mesmo em todo o lugar.
O reencontro foi bom — entre mim e Martha, me lembrei de quando viajamos juntas.
Em 2017 coloquei Martha na mochila, mais precisamente um livro da sua autoria, “Um Lugar na Janela”, e parti rumo a Buenos Aires para a minha primeira aventura internacional, pela primeira vez em um avião e pela primeira vez viajando sozinha. Sim, muitas primeiras vezes em uma tacada (e frase) só.
Foi um ano de virada. Destruição, pólvora, estruturas e certezas vagando pelos ares. Um adeus definitivo e o início de uma longa busca para resultar o eu do agora, este que lhe escreve sem arrependimentos.
A viagem em questão me rendeu muitos aprendizados e uma crônica publicada em 2019, na minha empoeirada e esquecida conta do Medium.
Reler minha história, conforta. As andanças por Buenos Aires foram mesmo um divisor de águas, agora, comprovado.
Sair da zona de conforto dói, mas viver na inércia é morte certa.
Hoje, te convido a viajar comigo e espero que a experiência seja boa.
Tempo de leitura: 7 minutos
Quem manda nessa porra sou eu — relatos de viagem
(texto originalmente publicado em 2019, no Medium
Aqui, você está lendo uma versão atualizada)
Há dois anos fiz minha primeira viagem internacional. Na época, a bagunça da vida me trouxe a necessidade gritante de arrumar as malas e partir rumo a novas experiências.
A ideia era simples: espairecer. O destino foi sábio e me fez encarar a missão com apenas a minha companhia. Nunca tinha viajado sozinha, muito menos de avião e quem dirá em outro país.
Montei uma playlist com músicas que me inspiravam. Já no avião, coloquei Free Bird do Lynyrd Skynyrd para tocar. Meu coração batia forte e o olhar incrédulo entre as nuvens não conseguiu conter as lágrimas. Aproveitei aquele momento, eu e a música, até pousar em Buenos Aires.
Chegando, fui para o hotel e dormi um pouco. Ao acordar, senti um enorme vazio. Eu estava livre, afinal, livre igual ao pássaro da música, para fazer o que bem entendesse, embora ignorante aos próximos passos diante da gaiola aberta. Me vi perdida, completamente perdida.
Mesmo assim, insisti. Caminhei pelas ruas, paramentada com mapas e uma expressão confusa no rosto. Uma perfeita turista. Visitei lugares incríveis (já quero voltar), comi bastante, andei muito, muito mesmo, fiquei horas no El Ateneo, a livraria mais linda que já vi pessoalmente, conheci uma brasileira e jantamos juntas. Tudo incrível!
Mas ao voltar para o hotel, o vazio me encontrava de novo.
Não estava acostumada à minha companhia. A liberdade sonhada me pareceu solidão. Desabafei com amigos e eles me convenceram a insistir mais. Me lembraram das minhas intenções: do dinheiro juntado o ano todo, da vontade de ter um momento exclusivo para mim. Por que não aproveitar?
Foi aí que a viagem ganhou um novo significado — e rendeu até esse texto.
Um grande amigo me indicou um pub, na mesma rua do hotel, e me sugeriu de ir até lá apenas para tomar uma cerveja. A ideia me deixou um pouco nervosa, a princípio. Uma mulher sozinha em um bar de um país desconhecido? Não parecia uma boa ideia.
"Querida, relaxa. Se não gostar, é só atravessar a rua (literalmente) e ir embora.", repeti algumas vezes enquanto encarava meu reflexo no espelho do elevador.
Fui ao pub, pedi indicação de cerveja e uma atendente, muito gentil, me serviu seu melhor palpite e puxou conversa comigo. Parecia uma situação muito simples, mas para mim foi um marco de independência, algo improvável demais para quem já fui. Que bom que a vida nos surpreende, não é mesmo?
No dia seguinte, tudo mudou. Saí para comer em restaurantes e me divertia com os olhares desconsertados ou curiosos ao pedir mesa para uma pessoa. Um lugar só me bastava. Pronto!
E como uma boa dona e senhora de seu próprio tempo, fiquei uma tarde inteira na companhia da Martha Medeiros, sem nenhuma interrupção.
Naquele dia, a guia do hotel me alertou que a sensação térmica seria de uns 40 °C, e sugeriu que eu passeasse por áreas mais arborizadas para não cozinhar. Escolhi Palermo e seus parques.
Em um deles encontrei um pequeno túnel formado por plantas e não pensei duas vezes em me sentar ali, sentindo uma corrente de ar deliciosa passar, enquanto apreciava os relatos de viagem do livro "Um Lugar na Janela", que ganhei de uma grande amiga. Aqui, posso dizer que tive meu segundo marco.
Logo no primeiro capítulo, Martha conta sobre a primeira viagem que havia feito e, assim como eu, sozinha e com a mesma idade. Aquilo me tocou profundamente e conforme devorava as páginas, era como se ela estivesse ali conversando comigo, contando sobre suas aventuras. Quando dei por mim, havia passado a tarde inteirinha sentada ali, lendo o livro, ouvindo os pássaros, as risadas das pessoas passando por mim, sentindo o vento refrescante soprar meus cabelos e percebi que, de fato, me bastava.
Para uma garota que só queria viajar para espairecer, marquei um divisor de águas na minha vida.
Não estou aqui para fazer um relato de viagem sobre os lugares que fui ou os pratos que devorei, mas para falar de sentimentos, a riqueza dessas experiências e o quanto são valiosas e poderosas. Cada viagem que fiz desde então teve um poder transformador em mim, e nada mais justo do que compartilhar esses relatos para te inspirar a não ter medo de sair da sua zona de conforto.
Buenos Aires fez com que eu descobrisse que quem manda nessa porra sou eu. A vida pode parecer meio bagunçada em alguns momentos, mas é minha.
Sair da zona de conforto pode ser assustador, mas é onde a gente descobre a nossa força. Não estou dizendo que você deve viajar para longe e só assim se transformará. Estou dizendo que você é um pássaro livre para voar e suas asas são muito maiores, fortes e poderosas do que imagina.
Bienal vem aí!
Estarei por lá no dia 14 de setembro para prestigiar colegas, passear e conferir os painéis, distribuindo meus marca-páginas queridinhos. ✨
Quem quiser, é só me dar um alô!
Pode ser respondendo este e-mail ou comentando. (:
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Obrigada por ler mais uma edição do “bruna está digitando…” até o final :)
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Até setembro! 🤘
Bruna Corrêa — publicitária, redatora, escritora de ficção, e-mails e devaneios.
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adorei saber sobre essa sua expriência! tô passando por uma similar, viajando sozinha por um tempo e me conhecendo e tem sido incrível. Basta a gente ter um pouquinho de coragem e abrir nossa mente pro mundo, né? <3 também devo estar na bienal dia 14, espero te ver lá!
Que texto mais gostosinho de ler 😭 vontade de chorar de felicidade com cada palavra lida. Como é bom sentir o gosto da liberdade 💚. Nunca li Martha Medeiros, mas agora estou interessada. Adorei a edição, Bru 🌻