Algumas histórias nascem no silêncio, mas depois acabam gritando.
Essa aqui é uma delas.
Com carinho,
- bru.
Tempo de leitura: 6 minutos
Comecei a ouvir rock graças ao meu pai.
Quando penso nisso, me vem a imagem dele sentado em frente ao computador de casa, com o Windows Media Player aberto, cantarolando músicas do Bad Religion e do Genesis.
Passei a infância ouvindo Guns ‘N Roses (minha mãe tinha um crush no Axl Rose), Scorpions, Iron Maiden, Mamonas Assasinas, entre tantas outras bandas. Amo a história de quando meu pai sumiu de casa para ir à primeira edição do Rock in Rio, em 1985, e deu o maior susto nos meus avós. Naquele ano, o Brasil se despedia da ditadura militar e o festival se transformou em um marco.
Fico imaginando a sensação de liberdade que o público deve ter sentido, porque me sinto exatamente assim quando ouço minhas bandas preferidas.
Rock, heavy metal e suas vertentes são, de longe, meus gêneros musicais preferidos. É um tipo de música que sinto com o estômago. Adrenalina pura. Me transfere força e energia. Oferece liberdade para extravasar e deixar fluir tudo que está contido. E por mais incoerente que pareça, me relaxa e equilibra.
Para algumas pessoas pode parecer estranho, mas existem estudos que comprovam a eficácia do Heavy Metal na redução do estresse e da ansiedade. Um deles, inclusive, foi realizado em 2021 por uma clínica na Turquia. Isso acontece porque o heavy metal é visto como uma forma positiva de processar a raiva.
Na adolescência, muitas dessas bandas se tornaram minha companhia. Foi um período difícil em que eu sofria os efeitos colaterais de um trauma de infância que eu ainda não sabia da existência. Eu me sentia desconectada do mundo.
Ao mesmo tempo em que consideravam meus gostos musicais estranhos, tinha gente que não colocava fé — é só uma fase. Há um consenso social de que quando mulheres gostam de algo considerado majoritariamente masculino, só o fazem para chamar atenção.
Sempre fui considerada muito meiga para gostar “desse tipo de coisa”. Até hoje ouço isso. Já tiraram sarro na minha cara, porque minha feminilidade e espontaneidade eram vistas como uma fraqueza fútil, como se fosse impossível uma menina sentir raiva e vontade de extravasar.
Demorei a entender que o contraste faz parte da minha personalidade e é justamente o que me torna tão… eu.
Acho que por isso me identifiquei tanto com metal sinfônico.
O contraste entre os vocais líricos e guturais, a fusão da música clássica com o peso do metal… tudo fazia sentido. Isso sem contar os figurinos, a performance, a estética teatral e as histórias contadas nas letras das músicas.
Tarja Turunen, na época vocalista do Nightwish, foi a primeira a me mostrar que a delicadeza e o sublime podiam muito bem coexistir com os riffs pesados.
Depois de um tempo me deparei com Angela Gossow liderando o Arch Enemy. Foi a primeira vez que vi uma mulher cantar gutural. Fiquei boquiaberta.
Então nós também conseguimos cantar assim? — pensou a jovem Bruna.
Ver aquela mulher movendo uma plateia inteira com tanta atitude e presença foi emblemático. Entendi que não existia um limite, uma caixinha para se fechar.
Mulheres, dica: quando estiverem tristes ou com raiva, vejam Angela Gossow no palco.
Para mim, o rock e o metal passaram a ser um lugar seguro para canalizar os sentimentos. Me ajudou a desenvolver o senso crítico, trouxe um espaço onde eu pudesse tomar café com meus demônios ao invés de me esconder deles.
Um espaço onde eu pudesse falar de tudo.
Ou melhor, onde eu ainda posso falar de tudo.
Quando conheci Crypta, em 2021, a banda nacional de death metal formada apenas por mulheres, tinha acabado de lançar seu primeiro álbum, Echoes of the Soul e foi amor a primeira ouvida.
No dia 27 de novembro daquele mesmo ano, eu já rabiscava as primeiras ideias do meu primeiro livro, As Mariposas da Morte. Com isso, as músicas da Crypta serviram de grande inspiração, principalmente Kali.
“Shatter my limiting beliefs
Make me face my deepest fears
Shatter the veil of unreality
Make my soul genuinely free” — Kali, Crypta
Crypta então se tornou a banda preferida da minha protagonista, uma vocalista que também domina a arte dos guturais. E deusa Kali, que apareceu para mim mais de uma vez, se fez um símbolo de sua jornada.
Kali é uma deusa hindu tríplice que representa criação, preservação e destruição. Sua figura geralmente está mais relacionada ao último elemento, como a Mãe Sombria, destruidora do ego.
Em A Jornada da Heroína de Maureen Murdock, livro que li durante meus estudos para As Mariposas da Morte, Kali apareceu de novo, atribuída como uma imagem arquetípica básica da Mãe do nascimento e da morte.
“Quando a fúria de Kali não é expressa ou canalizada de maneiras criativas, ela se transforma na sombria e devoradora estagnação de uma vida não vivida.” — A Jornada da Heroína, Maureen Murdock.
Bom, eu acredito nos sinais do universo.
Kali impôs sua presença no meu processo criativo. Na música, nos meus estudos, no meu momento de vida.
Aceitei.
Deixei que ela guiasse a história e se transformasse em um elemento importante para a narrativa.
E enquanto escrevia As Mariposas da Morte, me dei conta de que ali eu estava homenageando não apenas a escritora que me tornei, mas também a adolescente que começou tudo isso.
A adolescente que encontrou na música um espaço seguro. Que escrevia fanfics das suas bandas preferidas, sonhando com o dia em que seria publicada.
Ô Bruna adolê, nós conseguimos, viu?!
Agora, quero muito que você também faça parte disso.
A campanha de As Mariposas da Morte começa esta semana, dia 07 de fevereiro, e seu apoio é muito importante para que esta história voe, grite e reverbere o máximo que puder.
Como vai funcionar?
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Então se você quer apreciar As Mariposas da Morte no melhor dos mundos, a hora é agora!
Tomatinhos
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🤘Falando em raiva feminina, este conteúdo (em inglês) conta um pouco sobre como a sociedade se beneficia com a desconexão das mulheres com a própria raiva. Vale a leitura!
Obrigada por ler mais uma edição do “bruna está digitando…” até o final :)
Fique à vontade para me contar o que achou desta edição.
Bruna Corrêa — publicitária, redatora, escritora de ficção, e-mails e devaneios.
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"é só uma fase" é algo nunca cansaram de falar, por mais que as décadas passem..ô fase boa!
Sempre bom ver a devida visibilidade dada para esse tipo som, tão desprezado, por aqui.
Felizmente vivi para ver a representatividade feminina e negra tomando cada vez mais espaço no meio da música pesada!
Que muito mais pessoas vivam essa "fase" eterna.
Te achei por acaso, adorei as recomendações de música hehe me fizeram vibrar de emoção, e agora quero garantir seu livro x)